sábado, 30 de janeiro de 2010



Tinha a face marcada pelas rugas do tempo. Os cabelos grisalhos atados num desalinho perfeito. As linhas da mão desapareciam num futuro por contar. Caminhava com passos firmes num andar cansado. Era noite. De lua cheia. Ouvia-se o mar. Cada vez mais perto.

Esperava por ela. Quando chorei por ti , disse-me.

Eu sabia que ela me conhecia muito bem. Conhecia-me quando estava sozinho. Conhecia-me quando eu pensava naquilo que nunca contei a ninguém.

Ao pé do mar, dentro do mar como se estivessemos dentro de nós próprios ela falava. O tempo passava. A noite deixou de existir. E eu que a conhecia tão bem gostaria de lhe dizer que não tivesse medo. Da noite. Do tempo.

Pousei os braços sobre os seus ombros. Desci as minhas mãos nas suas costas. O tempo deixou de existir. As palavras deixaram de existir. Ficamos parados no olhar. Vimo-nos como se nos encontrássemos. Como se nos tivessemos perdido há muito tempo e nos encontrássemos.

O tempo deixou de existir.

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