domingo, 1 de março de 2015

by heart

e se juntássemos dez pessoas amigos familiares
conhecidos desconhecidos
e juntos aprendessemos um poema

aprender de cor apprendre par coeur by heart

acolher na nossa memória esses inquilinos-poemas
para que sobrevivam para sempre

e se juntássemos dez pessoas
e juntos aprendessemos um poema
e cada uma das dez pessoas o ensinassem a dez pessoas...

poderiamos ser todos bibliotecários do efémero

sábado à noite num velho teatro da Lisboa (Teatro Maria Matos)
um actor (Tiago Rodrigues)
dez espectadores em palco aprendem
um poema (soneto 30 de William Shakespeare)

Quando em meu mudo e doce pensamento
chamo à lembrança as coisas que passaram
choro o que em vão busquei e me sustento
gastando o tempo em penas que ficaram.
E afogo os olhos (pouco afins ao pranto)
por amigos que a morte em treva esconde
e choro a dor de amar cerrada há tanto
e a visão que se foi e não responde.
E então me enlutam lutos já passados,
me falam desventura e desventura,
lamentos tristementes lamentados.
Pago o que já paguei e com usura.
          Mas basta em ti pensar, amigo, e assim
          têm cura as perdas e as tristezas fim.


e se juntássemos...
by heart

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Natal

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre

sexta-feira, 5 de abril de 2013

agora escrevo pássaros


foto: Yuri Bonder

Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas, chuva de asas,
e eu sem pão para dar, tão somente
deixo-os vir. Talvez
seja isto uma árvore,
ou quem sabe,
o amor.
 
Julio Cortázar

segunda-feira, 25 de março de 2013



obrigada Catarina

segunda-feira, 18 de março de 2013

don't you worry child

... See heaven's got a plan for you ....

quinta-feira, 14 de março de 2013

para a Catarina

vais ser mágica.
para sempre

terça-feira, 12 de março de 2013

para Cesar


está tudo certo.
está tudo no lugar certo.
cumprindo o seu destino