sexta-feira, 31 de dezembro de 2010



"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,

qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim "

Chico Xavier


Feliz Ano Novo para todos nós

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

as mãos do meu pai




As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já de cor de terra
- como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da
nobre cólera dos justos.

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza
que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços
da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los
contra o vento?

Ah! Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das
tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida – que transcende a própria vida
...e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.

Mario Quintana

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

all about soul

NGC 6302


She waits for me at night, she waits for me in silence
She gives me all her tenderness and takes away my pain
And so far she hasn't run, though I swear she's had her moments
She still believes in miracles while others cry in vain

It's all about soul
It's all about faith and a deeper devotion
It's all about soul
Cause under the love is a stronger emotion
She's got to be strong
Cause so many things getting out of control
Should drive her away
So why does she stay?
It's all about soul

She turns to me sometimes and asks me what I'm dreaming
And I realize I must have gone a million miles away
And I ask her how she knew to reach out for me that moment
And she smiles because it's understood there are no words to say

It's all about soul
It's all about knowing what someone is feeling
The woman's got soul
The power of love and the power of healing
...

do albúm River of Dreams de Billy Joel

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

oferecendo de beber a Pei Ti



Vem beber um copo e descansar,
os homens mudam sempre, como as ondas do mar.
Nós dois temos envelhecido juntos,
apesar dos reveses, continuamos vivos.
O primeiro a habitar uma casa de portões escarlates
pode sorrir, ao olhar os outros de chapéu na mão.
Tu sabes, basta um pouco de chuva
para reverdecer a erva dos caminhos.
O vento da Primavera é ainda frio
mas os botões das flores quase desabrocharam.
Por que tanta pergunta, tanta luta,
os negócios do mundo, as nuvens flutuantes?
Descansa, deixa fluir a vida,
e vem jantar comigo.

Wang Wei

domingo, 26 de dezembro de 2010

natais, duas festas dos loucos

.
Há dois Natais. Um que tem uma face pagã e outra cristã. Em termos cristãos, nele se celebra o nascimento de Cristo na terra ou, segundo os místicos, o nascimento do divino na consciência (como escreveu Angelus Silesius: “Que me importa que Cristo haja nascido ontem em Belém, / Se não nasce hoje na minha alma?”). Em termos pagãos, a celebração que foi cristianizada é a do Solstício de Inverno, ou seja, o renascimento simbólico do Sol Invictus após a sua simbólica morte: ou seja, o renascimento do próprio mundo, quando a energia vital que há nos seres e nas coisas, após declinar e se recolher, inicia um novo ciclo de expansão. O Deus cristão foi depois visto como um Deus crucificado, apontando um caminho de ascese e renúncia ao mundo, em prol de uma salvação sobrenatural, acessível apenas aos homens, destinados a uma eternidade separada dos animais que lhes serviram de companhia, alimento e força de trabalho. Todavia, como se assinala na inspiração franciscana do Presépio, ele veio ao mundo numa gruta, símbolo das profundezas da Natureza, primeiro que tudo aquecido e protegido pelos animais, uma vaca e um burro: poderoso símbolo de uma fraternidade divino-humano-cósmica, ainda por cumprir, tal como igualmente se expressa no “Jardim das Delícias”, de Bosch, ou nos quadros de Chagall, entre outros.

Este Natal, pagão ou cristão, implica sempre um (re)nascimento iniciático, uma metamorfose da consciência e das energias profundas do ser, um mundo ao arrepio das convenções, rotinas e usos comuns, em que a libertadora experiência do sagrado consiste em ridicularizar aquilo a que se está apegado como mais sagrado. Não é por acaso que, ainda na Idade Média cristã, o Natal coexistia, no período da libertas decembrica, com as Festas dos Loucos, celebradas de meados de Dezembro até à Epifania, em 6 de Janeiro, com comida, bebida e danças dentro das igrejas e em cima dos altares, missas paródicas com burros a zurrar, homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens, crianças entronizadas como Imperadores dos Inocentes, a quem os adultos e a hierarquia eclesiástica tinham de obedecer, etc. Progressivamente proibidas nas igrejas, acabaram por originar o Carnaval moderno, tendo sido a forma medieval e cristã do mundo às avessas que é ritualizado em muitas tradições e culturas como forma de recordar e vivenciar o regresso cíclico do cosmos ao Caos primordial ou ao Tempo das Origens onde tudo é puro, sagrado e possível e a liberdade, a metamorfose, o jogo e a festa predominam sobre a rígida delimitação do sagrado e do profano, do divino, do animal e do humano e dos papéis psicológicos, sociais e cósmicos, com a vida orientada para o trabalho e a produção. Correspondendo ao solstício de Inverno, herdam a memória de mais antigas festividades pagãs, de sentido carnavalesco, como as Saturnais, onde se celebrava o regresso à abundância e inocência da Idade do Ouro, com a troca de presentes e o travestimento de homens e mulheres. Festividades ainda bem presentes no Nordeste transmontano, de cuja inversão da ordem se acredita depender a renovação das energias humanas e cósmicas, a fertilidade das mulheres, dos animais e dos campos. Como ainda hoje se diz em certas aldeias de Trás-os-Montes, por ocasião das tropelias e mascaradas praticadas nas Festas dos Rapazes e outras: “É Natal, ninguém leva a mal!”. Um Carnatal, como pude presenciar…

Estas festas, tradicionais e iniciáticas, para além da catharsis das pulsões reprimidas, podemos entendê-las como convites à transmutação da consciência que assume e liberta a sua iluminada ou divina natureza primordial, anterior a qualquer estado, condição ou limite, anterior a qualquer máscara, ego e personalidade e sua projecção de um mundo ilusoriamente considerado como exterior, real e objectivo. O Louco simboliza bem, como na carta do Tarot, essa natureza primordial da mente, não egocentrada, sem centro nem periferia, tão livre e infinita como o espaço, tal um zero metafísico e pré-existencial que, por não ser nada, pode a cada instante imaginar-se e tornar-se tudo, como assume Bernardo Soares no “Livro do Desassossego”. Aquilo que todos somos: Todo o Mundo – Ninguém.

O Louco ou a Criança. Porque a Festa dos Loucos é a festa da coroação das crianças como detentoras da suprema autoridade, com a inversão das funções e relações habituais entre as classes etárias e sociais. A exemplo do ensinamento de Lao Tsé, Cristo e Agostinho da Silva. Tal como acontecia e acontece na Festa do Espírito Santo, sua directa herdeira no Ocidente, fundada pela rainha Santa Isabel e levada para os Açores, Brasil e América. Preservada ainda hoje no Penedo, perto de Sintra, com a mácula da tourada à corda. A Festa onde Agostinho da Silva viu a simbólica antecipação do futuro que todos desejamos: a libertação de todas as prisões, a igualitária partilha da abundância, a coroação e a sacralização da infância, ou seja, da inocência, da liberdade e da imaginação criadora.

Este é o espírito e o simbolismo profundo do Natal, do Presépio, da Árvore de Natal, imagem do axis mundi que liga Céu e Terra e passa em cada uma das nossas colunas vertebrais. O simbolismo da troca de prendas, da festa da infância e da abundância, da comunhão na alegria, na solidariedade e na despreocupação.

O outro Natal é o que hoje temos à nossa volta, a deturpação deste e do seu espírito num (fim de) ciclo de civilização em que o crescente vazio interior de mentes sem imaginação, amor e sabedoria se busca ilusoriamente compensar por um produtivismo e consumismo galopantes e ávidos, que alimentam uma economia regida por especuladores e agiotas, financiam guerras, trucidam milhões de seres vivos e envenenam e enchem de lixo o planeta para uma Consoada e um dia de Natal de embrutecimento e esquecimento da vida triste e opressiva levada em quase todos os restantes dias do ano. No fundo, e ainda, uma grande Festa de Loucos, mas não de Loucos sábios e livres, antes de Loucos patológicos que buscam libertar-se com aquilo que mais os escraviza, ofusca e aliena.

Importa contudo ir além do moralismo estreito e estéril e ver, através dum Natal e duma Festa de Loucos, o outro Natal e a outra Festa de Loucos cuja saudade no fundo secretamente move a avidez e a alienação deste grande Holocausto consumista. E, serenamente, transitar de um para o outro, sendo feliz e tornando-se contagioso. Ou seja, transitar das prisões do ego e das suas ilusões, individuais e colectivas, para a Grande Festa do Livre Espírito, na infinita comunidade de todos os seres vivos, da Vida e da Natureza. E dar expressão a isso, transformando o mundo-manicómio onde vivemos e antecipando nele alternativas ao seu colapso iminente. Com toda a sabedoria, amor, criatividade e riso de que formos capazes. Rir, sobretudo, de nós próprios.

FELIZ NATAL! LIBERTADORA FESTA DOS LOUCOS!

Paulo Borges

Paulo Borges é filósofo e escritor. Professor no Departamento de Filosofia e investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Presidente da Associação Agostinho da Silva e da União Budista Portuguesa. Vice-presidente da Associação Interdisciplinar para o Estudo da Mente. Director da revista Cultura ENTRE Culturas. Coordenador do Movimento Outro Portugal. Co-fundador e membro da Comissão Coordenadora do Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN).

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

feliz natal meus amigos



Obrigada meus queridos

Arami, Udni, kendolechon, kendopitecus

Gracias pelas palavras pela música pelas imagens pelas partilhas por tudo o que me ensinaram, Arami por tudo o que me enviaste e chegou ao seu destino (um dia contarei ao Afonso…), pela presença pelos sorrisos pelas questões pelas tonterias pelas brincadeira por tudo…

Desejo-vos um Natal de coração cheio para dar e receber Amor e que o Novo Ano traga a renovação da vida em todos os sentidos e direcções

Um beijo muitos beijos (gosto muito de beijos :D) um abraço imenso doce e fraterno a todos vós e a ti kendopitecus um muito especial

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

obrigada Jan

Que te dizer? Que agora tenho uma deusa junto dos meus elfos e duendes, junto dos meus versos e contos, junto das minhas estrelas e planetas, junto dos meus sonhos…

Gosto muito muito

E gracias Jan pelas viagens que fiz nas tuas histórias pelos sentimentos que despertaste nas tuas pinturas e desenhos pela amizade e pela luz que me enviaste em dias de nevoeiro…

Dizia o poeta austríaco von Hofmannsthal que “a realidade é o maior dos encantamentos que alguém já experimentou”. Sejamos pois todos seres encantados!

Desejo-te um Natal cheio de Amor junto de todos os teus. Os que estão em teu redor e os que trazes dentro de ti.

Um abraço enorme




obrigada kendito




que precioso é receber presentes sem se esperar. Obrigada meu amigo. Pelos carquinoles :D

que eu nem sabia que existiam, mas que provei logo e são magníficos e um pouquito viciantes. Não se consegue comer só um…uma delícia para saborear à lareira com um Porto e conversas…

e kendito gracias pelo que aprendi contigo ao longo do ano pela amabilidade pela sensibilidade pela lógica pela doçura pelas palavras

Desejo-te um Natal abençoado junto de quem és e fazes feliz!

Um beijo grande

o menino que carregava água na peneira

Beatriz Trixis

Eu tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que o do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira,

com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviço, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos

Manoel de Barros

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

murmúrios do silêncio



Tenho frio, murmurou-lhe o silêncio

Cobriu-o de versos de prosas de sonhos de desenhos de solidões de medos de passados de saudades de luz de asas de pétalas

Sentiu-o cansado de palavras

Tocou-o e deixou-se tocar

Sem fazer ideia do mar imenso em que se ia perder

domingo, 12 de dezembro de 2010

douce nuit


Crescente era o quarto da lua.


A noite tomava de emprestado o vermelho dos candeeiros seculares dispostos em redor da árvore imensa no centro da praça. No cimo dos edifícios, os sinos enfeitiçados pelo canto do vento, entoavam uma melodia muito antiga. Muito bela.


A mulher e a menina impregnadas de espanto olhavam.
Olhavam a árvore, os candeeiros, o vento, os sinos, a praça.


É mágico, mãe. Olha, consegues ver? – perguntou a menina apontando o dedo para o céu.


No ar flutuavam milhares de seres alados vindos do fim dos tempos, que lhes sussurrravam ladainhas ternas ao ouvido e fechavam as asas como quem se abraça devagar. Pareciam flocos de neve…


Podemos ficar assim para sempre? Podemos?


A mulher deslizou os dedos longos e macios pelo seu cabelo, acariciando-a e perguntou:
- É isso mesmo que tu queres pequenina?
- É! – respondeu sem pestanejar.


A mulher sorrindo pegou na mão da menina e começaram a subir a subir sentindo em cada asa o impulso imenso de um regresso a casa.





esta é uma história para recordar à lareira, com a Catarina, embrulhadas em mantas de lã e de ternura

sábado, 11 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

a lua




A essência dos significados da Lua surgiu devido à sua natureza mutável e nocturna. Em primeiro lugar, a lua muda constantemente de fase, perfazendo o seu ciclo em 28 dias.

A sua mutabilidade é devida à sua posição em relação ao Sol. Quando está conjunta a ele, desaparece, pois o brilho solar ofusca a Lua, e neste período ela parece ser “fecundada” pelo Sol. Na próxima fase, distancia-se do sol e começa a crescer (gravidez), quando entra na fase do oposição fica totalmente cheia, e “dá a luz”, iluminando a noite escura e por fim minguando, volta a aproximar-se do sol, que a ofusca novamente, até desaparecer e reiniciar o ciclo.

Este é o princípio Lunar, que deu origem aos maiores significados da Lua: é o arquétipo da grande mãe, é o feminino, a gravidez, as emoções, os sentimentos, os afectos, o cuidado, a protecção, a nutrição, a alimentação.

A mutabilidade da Lua representa a mutabilidade dos sentimentos e afectos humanos e também a instabilidade.

Outros significados da Lua advêm da sua natureza nocturna.
A noite, nos primórdios da humanidade, era sinónimo de perigo, medo, desconhecido. Como os homens estavam muito expostos ao ataque de animais, saqueamento de suas reservas por inimigos, etc., a noite e a escuridão tornaram-se o principal arquétipo de medo no inconsciente colectivo do homem. Outras qualidades dadas deste arquétipo à lua são de imaginativa, impressionável e influenciável. E também fantasia, criatividade, sonho.

A lua condiciona uma série de eventos na terra, graças à sua influência gravitacional, afectando as marés, o crescimento da vegetação e todos os ciclos naturais.

Sendo assim, podemos perceber que a Lua é um condicionador importante para o homem, e toda a experiência associada a outros factores planetários também será profundamente influenciada pela Lua, isto é pela nossa percepção emocional, pelos nossos condicionamentos inconscientes e pelos nossos mecanismos de defesa.

A lua astrológica também representa nossos medos e a nossa defesa emocional inconsciente e imediata frente aos estímulos ameaçadores. A lua é nossa identidade emocional, a forma habitual de reacção, os padrões instintivos de comportamento e os condicionamentos aprendidos na infância.
Também rege as experiências passadas, a memória emocional, o passado, a tradição.

Enquanto o Sol representa nosso Self consciente (luz do dia), a Lua representa o Ego inconsciente e o comportamento emocional adquirido inconscientemente (escuridão da noite).
Enquanto o Sol representa a parte masculina da psique humana a Lua representa a sua componente feminina “Anima”, daí seus significados de figura materna, mulher, nutrição, casa, protecção.

O Glifo

O glifo da Lua simboliza o meio círculo, e portanto uma fracção do todo, algo que falta para chegar ao todo, um vazio.
Este vazio é também um importante significado da lua, aquilo que falta para a plenitude, as carências, o que precisa de alimento ou nutrição para “encher”, ou completar.
O símbolo do meio círculo também simboliza a “alma”, o sentir ou o intuir. Este símbolo também encerra em si a noção de passividade - receptividade.

No mapa natal a lua é interpretada no signo e na casa em que está e nos aspectos que faz aos outros planetas.

A Lua rege o signo de Caranguejo e a casa IV, e está exaltada em Touro.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Florbela Espanca



Florbela da Conceição Espanca (1894 - 1930) nasceu e voluntariamente morreu em 8 de Dezembro, dia dedicado a N.Srª da Conceição, sua patrona.

domingo, 5 de dezembro de 2010

sete graus abaixo de zero


tombe la neige

(ontem em Bruxelas)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010



”... estar ao mesmo tempo sonhando um poente real sobre o Tejo real e uma manhã sonhada sobre um Pacífico interior; e as duas coisas sonhadas intercalam-se uma na outra, sem se misturar, sem propriamente confundir mais do que o estado emotivo diverso que cada um provoca, e sou como alguém que visse passar na rua muita gente e simultaneamente sentisse de dentro as almas de todos...”.

Bernardo Soares (Livro do Desassossego)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

que intervalo é este entre mim e mim?

.

Uma noite, um filme, o filme do desassossego, uma adaptação de “O Livro do Desassossego” escrito por Bernardo Soares ,semi-heterónimo de Fernando Pessoa.

O filme aparentemente impossível de realizar, pensamentos fragmentados do desassossego de Bernardo Soares, realizado de forma magnífica por João Botelho.


Gostei muito. E desassossegou-me….


A noite choveu. O que me faz diferente esta noite? Que desassossego passeio nesta noite de nevoeiro molhado que sulca na face uma lágrima, mistura de doce e salgado?

Fragmentos de pensamentos. Da noite.


que intervalo é este entre mim e mim?


as emoções, o corpo, as sensações, a vigília, os sonhos, os desejos os sentidos quando acordo de madrugada a esperança de algo antigo e tão frágil


que intervalo é este entre mim e mim?


um tempo imperfeito, abstrações, inquietações
não sei o que é. sei que está no meu peito
peregrina sigo devagar entre mim e mim


que intervalo é este?


de olhos fechados o frio perdido dentro de mim.
meço o tempo que chega de longe no meu rosto
abandono as palavras dentro da noite


que intervalo é este entre mim e mim?


é a calma na tempestade, as folhas que chovem do vento
as raízes desnudadas da árvore
o abandono sem medo a todos os caminhos
, um dia, entre mim e mim, um passo sem intervalos


Um filme. Uma noite. Um desassossego.