sexta-feira, 29 de outubro de 2010

metáforas II

"olha como as nuvens choram"

há pouco
na minha cidade

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

as primeira metáforas



Houve um homem,
anterior a estes e ao abismo.

Chovia. O homem apontou
o céu e disse:
«olha como as nuvens choram»
Foi o primeiro.

As palavras eram ainda leves
e, naturalmente, era também possível
dizer coisas belas e imprevistas
como um relâmpago.

Paulo Tavares

domingo, 24 de outubro de 2010

estarás aqui amanhã?

Um atrevido raio de sol penetra suavemente pela fresta da persiana, pintando de ouro a minha mão que entretida desenha círculos e círculos na madeira do soalho. Olho cautelosamente na direcção da luz. Partículas de poeira flutuam descordenadamente como adolescentes que aprendem a mover-se num corpo a crescer.

Passado presente na memória. Recordo a luz do bosque que se abria a poucos passos da porta da minha distante casa num tempo distante.

Estarei aqui amanhã?


Volto o meu rosto e olho para ela.

Os seus olhos são ternos, calmos e atentos. Emitem a alegria silenciosa de uma criança que olha para dentro de um tempo acabado de descobrir.

Sinto como se não houvesse bem ou mal no mundo – só eu e ela. E sinto também algo mais. Pequenos fragmentos de sentimentos opostos e verdadeiros. Inquietude e serenidade.


Talvez eu parta, digo. E penso para mim que não sei muito bem o que isso significa.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

para a catarina

O que vou ser quando crescer, costumavas perguntar
E eu respondia: livre, livre, livre….
E corrias em gargalhadas ensaiando a liberdade


Agora crescida perguntas-me, o que vou ser?
e eu murmuro-te livre, livre, livre…
e tu voas experimentando a liberdade



sábado, 9 de outubro de 2010

Dado que só se exprime através do som e tem lugar num tempo determinado, a música é, por natureza, efémera.

O que é essencial na execução da música e difícil na vida é começar sempre do zero.

De cada vez que executamos de novo uma obra, temos de o fazer com a frescura de um primeiro encontro e a intensidade de um último.

É muito difícil ter a coragem e a capacidade de começar do nada, analisando a experiência colhida no passado e depois recomeçar a pensar, em termos diferentes.


in Está Tudo Ligado. O Poder da Música. Daniel Barenboim


terça-feira, 5 de outubro de 2010




Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;


Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,


Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,


Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Amém.


Natália Correia

domingo, 3 de outubro de 2010

koan



Batendo duas mãos uma na outra temos um som;
qual é o som de uma mão?"


(tradição oral, atribuida a Hakuin Ekaku, 1686-1769).



Koans…

Sem respostas certas sem respostas erradas….
Pequenos enigmas respondidos com a intuição
Deixando de lado a mente lógica e racional

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...


E dos meus olhos fechados
desceram lágrimas que não enxuguei,
E da minha boca fechada
nasceram sussurros


E palavras mudas que te dediquei...


Mario Quintana