terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

os quatro búzios




Saltitava descalça pela areia. Dava pequenos gritinhos quando a água salgada molhava a bolha enorme que tinha no dedo grande do pé. Ui, ui como ardia! Mas ela sabia que se desse um grito doía menos. Não percebia porque os adultos não gritam quando têm uma dor.

O dia tinha acabado de nascer. No céu uns fiapos brancos. O vento tinha levado as nuvens escuras e a chuva da noite passada. As ondas brincavam com a areia e salpicavam o seu rosto, os seus cabelos. E ela ria, ria.

Foi nesse instante preciso, naquele momento preciso que os seus olhos se fixaram na areia e os viram. Eram quatro! Quatro búzios desenterrados pelas ondas. E nesse preciso instante lembrou-se. Lembrou-se deles. Dos seus quatro amigos que se mascaravam de adultos e bricavam lá longe num país distante.

Sentou-se e cuidadosamente pegou em cada um deles. Levou cada um ao ouvido. E escutou. Escutou o som do mar. Um sorriso travesso pousou nos seus lábios. Todos tinham um som diferente.

Ouviu o som do mar ao nascer do sol. O som que o mar tem quando se sente aquecido, a espreguiçar-se, a sorrir ainda desacordado. Um som suave do mar. E pensou, este sei quem é.

Outro búzio outro tom. O som do mar a meio da manhã. Completamente acordado. As ondas a desafiarem a areia, a descobrirem conchas e búzios e conquilhas. A rebentação das ondas. O som de risos. O mar também sabe rir. E pensou, este sei quem é.

E este? O som do mar à noite revolto. Ondas que tentam vencer os recifes. Uma e outra vez e outra vez. O som das tempestades. E o som que fica depois. E pensou, este sei quem é.

Encostou o último búzio ao ouvido. E escutou o som das marés. Praia mar baixa mar. A lua a chamar as marés. Marés vivas marés calmas. Marés conhecidas marés por descobrir. E pensou, este sei quem é.

As suas mãos pequeninas uniram-se em concha e trouxeram os búzios para casa. Guardou-os no fundo da mala para quando regressasse. Não sabia como mas um dia seriam deles.

E veio ao pé coxinho ter comigo. A bolha do dedo grande do pé estava a crescer, cada vez maior, enorme…

3 comentários:

  1. Amigos nos, amigos todos, Hummmm dulce relato, puedo sentir la arena la brisa y el agua.

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  2. As vezes, só as vezes os se calhares não são.
    E é mesmo uma causalidade o que produz aparentes casualidades.

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  3. eu diria acausais sem causalidade...

    ;)

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