quinta-feira, 25 de novembro de 2010

o minotauro

Em Creta
Onde o minotauro reina
Banhei-me no mar

Há uma rápida dança que se dança em frente de um toiro
Na antiquíssima juventude do dia
Nenhuma droga me embriagou me escondeu me protegeu
Só bebi retsina tendo derramado na terra a parte que pertence aos deuses

De Creta
Enfeitei-me de flores e mastiguei o amargo vivo das ervas
Para inteiramente acordada comungar a terra
De Creta
Beijei o chão como Ulisses
Caminhei na luz nua

Devastada era eu própria como a cidade em ruína
Que ninguém reconstruiu
Mas no sol dos meus pátios vazios
A fúria reina intacta
E penetra comigo no interior do mar
Porque pertenço à raça daqueles que mergulham de olhos abertos
E reconhecem o abismo pedra a pedra anémona a anémona flor a flor
E o mar de Creta por dentro é todo azul
Oferenda incrível de primordial alegria
Onde o sombrio Minotauto navega

Pinturas ondas colunas e planícies
Em Creta
Inteiramente acordada atravessei o dia
E caminhei no interior dos palácios veementes e vermelhos
Palácios sucessivos e roucos
Onde se ergue o respirar da sussurada treva
E nos fitam pupilas semi-azuis de penumbra e terror
Imanentes ao dia
Caminhei no palácio dual de combate e confronto
Onde o Príncipe nos Lírios ergue os seus gestos matinais

Nenhuma droga me embriagou me escondeu me protegeu
O Dionysos que dança comigo na vaga não se vende em nenhum mercado negro
Mas cresce uma flor daqueles cujo ser
Sem cessar de busca e se perde se desune e se reúne
E esta é a dança do ser

Em Creta
Os muros de tijolo da cidade minoica
São feitos de barro amassado com algas
E quando me virei para trás da minha sombra
Vi que era azul o sol que tocava o meu ombro

Em Creta onde o Minotauro reina atravessei a vaga
De olhos abertos inteiramente acordada
Sem drogas e sem filtro
Só vinho bebido em frente da solenidade das coisas
Porque pertenço à raça daqueles que percorrem o labirinto
Sem jamais perderem o fio de linho da palavra

Sophia Mello Breyner

2 comentários:

  1. De la Señora el hábito se alzó
    y cual velamen ante el cinto levantóse..
    Sopla Dios, noto cálido, y amor
    se deslizó al lascivo patio helado
    y el vino de la misa lo escanció.
    Tomó la priora encantadora una bandeja,
    cual un ala azotó el talón la tierra;
    al bóreas-de-Dios surgió el seno turgente
    y el canto alzaron los ardientes labios:
    “¡Ven, mi Jesús, dulce adorado mozo!
    Tibia lanzan la leche nuestros pechos;
    de la mujer es bella la apariencia.
    La espesa gota cae en mis entrañas:
    álzate cuerpo, taller de la llama,
    que las Madres del fuego aparecieron.
    Arde, florece el pobre Monasterio:
    ¡ceniza vuélvase y veamos al Amado!
    La mente se embriagó, dan flor los yermos senos;
    ¡caminar ya no puedo y me suspendo
    cual abeja de espaldas en la rama
    Florida del Señor y allí me cimbro!
    Soy, Dios mío, mujer: tan dulcemente
    sólo contigo puedo yo aunarme;
    siento el dolor de nuestra tierra hembra
    al diluvio del cielo y el celeste
    de la noche temor bajo los rayos.
    Subo sobre los techos agitando
    mis alas rojas como una cigüeña:
    Fuera de ley, gozad, hombres, mujeres,
    hondamente se teja un cuerpo a otro,
    ¡mas yo al Dios mío guardo en mi regazo!

    Nikos Kazantzakis,
    Estrofas de la 70 a la 100
    Cantos en Tercinas a Santa Teresa.
    Beijos

    ResponderEliminar