sábado, 9 de abril de 2011

Quando era menino, gostava de inventar palavras. Com cuidado, porque ainda não sabia muito bem como fazê-lo. Seguia os passos do meu avô que inventava enxertos para as plantas. Dálias com dracenas. Tangerinas com laranjas. Manjericão com alecrim. Orégano com lascas de macarrão (os temperos já saíam com a dose certa). Ciprestes, ele enxertava com enfeites de Natal. Ele era um inventor de impossibilidades. Em sua magia, todas davam certo. Madeiras-de-lei com árvores transgressoras. Ele mesmo ria de suas invencionices. Eu achava graça, mas curioso, prestava muita atenção com a seriedade possível para um neto que via em seu avô a saída para a monotonia do mundo. Com afinco, portanto, seguia inventando novas palavras nascidas do enxerto de duas anteriores.

Certo dia desinventei uma palavra. Mas, para minha surpresa, ela possuía uma cor nunca vista, exuberante, que descortinavam meus olhos para as estrelas, um aroma das manhãs orvalhadas dos campos virgens e uma textura que não cabia em nenhuma gramatura de papel.



Assim, foi tanta emoção, que acabei por abrir a mão e, feliz, com lágrimas nos olhos, pude vê-la voar suave num movimento espiralado em direção aos céus. Ainda hoje a reencontro sempre que olho apaixonado no brilho dos teus olhos.

Carlos Eduardo Leal

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