quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

anatomia emocional


A vida produz formas. Essas formas são parte de um processo de organização que dá corpo às emoções, pensamentos e experiências, fornecendo-lhes uma estrutura. Essa estrutura por sua vez ordena os eventos da existência. As formas evidenciam o processo de uma história protoplasmática que caminha para uma forma pessoal humana – concepção, desenvolvimento embriológico e estruturas de infância, adolescência e vida adulta. Moléculas, células, orgãos são as formas iniciais do movimento da vida. Mais tarde a forma da pessoa será moldada pelas experiências internas e externas de nascimento, crescimento, diferenciação, relacionamentos, acasalamento, reprodução, trabalho, resolução de problemas e morte. Ao longo de todo esse processo, a forma é impressa pelos desafios e tensões da existência. A forma humana é marcada pelo amor e pelas decepções.

Se pudessemos fotografar nossa vida e projectá-la quadro por quadro, perceberíamos que somos sequências móveis de formas emocionais variadas.
À medida que dialogamos com as formas que nos cercam – primeiro o útero; depois com nossa mãe e em seguida com muitas outras – constituimos os estratos das formas emocionais.

“ Anatomia é destino” afirmou Freud. O processo anatómico constitui uma sabedoria profunda e poderosa que dá origem a imagens internas de sentimentos. As formas externas do corpo e as formas internas dos orgãos falam-nos da motilidade celular, da organização e do movimento da psique e da alma.


A anatomia é o alicerce das relações humanas. O que acontece dentro de nós, eventualmente também ocorre fora. Os relacionamentos humanos são interacções somáticas de pulsação emocional e forma comportamental – dentro e fora de nós.

Relacionamo-nos com os outros por intermédio das formas que construimos. As experiências emocionais da vida criam forma e formato. A forma dá às emoções, pensamentos e sentimentos um escoadouro para sua expressão e satisfação ou inversamente para a inibição e a dor. Com a nossa forma interagimos com o mundo. À medida que nos abrimos para o contacto com os outros, amor, intimidade e cooperação, podemos criar relacionamentos para reforçar ou compensar a nossa forma individual.

Cada um de nós se defronta com um outro. Esse outro interage connosco, responde às nossas acções e por sua vez provoca respostas em nós. Nossa humanidade básica depende desse sentimento de ligação. Um vínculo estabelece-se através de um sistema de poderosas conexões – superfícies corporais, linguagem, olhos, sentimentos, intimidade emocional, amor e sexualidade. Nós tocamos-nos a partir de poços do desejo e dos labirintos da memória dos primeiros cuidados – sucesso ou fracasso no amar e ser amado. Profundidade, interioridade e união dão início a um vínculo que derrete as camadas de cautela e medo, as bravatas e os anseios, quando compartilhamos a nossa verdade somática.

O contacto com o outro é mais do que superfície com superfície, é também interior com interior. O contacto é estratificado, das superfícies de comunicação, da camada externa da pele, à segunda camada do gesto e acção, até à terceira camada de motilidade visceral. Contacto, vulnerabilidade e intimidade envolvem interacções entre superfícies e profundezas.


O amor e a intimidade mudam a expressão emocional permitindo experiências que fazem cair defesas. Isto permite-nos sentir o sabor da satisfação terna. Ao longo do tempo, à medida que o amor e intimidade continuam e se desenvolvem criam-se formas apropriadas. Das profundezas, camada por camada emergem novas formas somáticas.


Anatomia é destino enquanto processo somático. A anatomia diz respeito a um processo vivo e dinâmico, um mistério, uma iniciação, a forma da experiência que dá origem ao sentimento, ao pensamento e à acção. Refere-se a nós, como formas de sentir. Refere-se à história genética, embriológica e pessoal. A anatomia, na verdade, refere-se à forma que nos foi dada pela natureza, às que tivemos que criar como partes de uma sociedade ou família específicas e às que estamos moldando neste momento.

Conhecer a anatomia emocional é experimentar as dores do desejo e da decepção, os conflitos do contacto e a luta pela satisfação, o sabor da intimidade e da individualidade, o conhecimento do amor condicional e incondicional.

Stanley Keleman (Anatomia Emocional)
desenho: Alex Gray

1 comentário:

  1. Ainsssss, no se, no se.
    Somos reacciones químicas dentro de un envoltorio con consciencia de existir(Véase la abejita de tu siguiente blog)
    Lo curioso es que tus reacciones químicas se puedan unir con otras dando lugar a relaciones.
    Beijos (químicos) ;-)

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