sexta-feira, 24 de setembro de 2010

o amor, meu amor



Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
e em tua saudade ser a minha própria espera

Mas eu deito-me no teu leito
quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.

Mia Couto

3 comentários:

  1. E não deixo de ser um sonho
    um sonho que sonha com acordar
    e ver que o sonho é a vida
    e a vida é o seu sonho

    ResponderEliminar
  2. No puedo hacer comentarios a esta bella poesia. Lo siento no tengo tanta facilidad de palabra como el Maestro Kendopitecus. Ellas (sus palabras) también son mias, con su permiso.
    Beijos

    ResponderEliminar