o poema não tem mais que o som do seu sentido,
a letra p não é primeira letra da palavra poema,
o poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma,
poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva
fresca e os teus lábios, lê-se mão de criança ou tu, mãe,
que dormes e me fizeste nascer de ti para ser palavras
que não se escrevem, lê-se silêncio, sim, tantas vezes,
poema lê-se silêncio, lugar que não se diz e que significa,
silêncio do teu olhar de doce menina silêncio ao domingo
entre as conversas, silêncio depois de um beijo
ou de uma flor desmedida, o poema não é esta caneta
de tinta preta, não é esta voz, a letra p não é a primeira
letra da palavra poema, o poema é onde eu fui feliz
e onde eu morri tanto, o poema é quando eu não conhecia
a palavra poema, quando eu não conhecia a letra p
e comia torradas feitas no lume da cozinha do quintal,
o poema é aqui, quando levanto o olhar do papel
e deixo as minhas mãos tocarem-te, quando sei, sem rimas
e sem metáforas, que te amo, o poema será quando as crianças
e os pássaros se rebelarem e, até lá, irá sendo sempre e tudo.
o poema sabe, o poema conhece-se e, a si próprio, nunca se chama
poema, a si próprio, nunca se escreve com p, o poema dentro de
si é perfume e é fumo, é um menino que corre num pomar para
abraçar o seu pai, é a exaustão e a liberdade sentida, é tudo
o que quero aprender se o que quero aprender é tudo,
é o teu olhar e o que imagino dele, não é a raiz de uma palavra
que julgamos conhecer porque só podemos conhecer
o que possuímos e não possuímos nada, o poema não é a palavra
poema porque a palavra poema é uma palavra,
o poema é um olhar perdido na noite
sobre os telhados na hora em que todos dormem
o poema não tem estrófes, tem corpo, o poema não tem versos,
tem sangue, o poema não se escreve com letras, escreve-se com
grãos de areia e beijos, pétalas e momentos, gritos e incertezas,
o poema sou eu, as minhas mãos nos teus cabelos,
o poema é o meu rosto, que não vejo, e que existe
porque me olhas, o poema é o teu rosto,
eu, eu não sei escrever a palavra poema,
eu, eu só sei escrever o seu sentido.
José Luís Peixoto
"Llego a preguntarme a veces si las formas superiores de la emoción estética no consistirán, simplemente, en un supremo entendimiento de lo creado. Un día, los hombres descubrirán un alfabeto en los ojos de las calcedonias, en los pardos terciopelos de la falena, y entonces se sabrá con asombro que cada caracol manchado era, desde siempre, un poema."
ResponderEliminarAlejandro Carpentier (Los pasos perdidos)
em todas as línguas...
ResponderEliminarhá sempre à espera um poema para ser lido
há sempre à espera um poema para ser escrito
:)
beijinhos
Permíteme este poema de Rubén Dario
ResponderEliminarA las doce de la noche, por las puertas de la gloria y al fulgor de perla y oro de una luz extraterrestre, sale en hombros de cuatro ángeles, y en su silla gestatoria,
San Silvestre.
Más hermoso que un rey mago, lleva puesta la tiara, de que son bellos diamantes Sirio, Arturo y Orión;
y el anillo de su diestra hecho cual si fuese para Salomón.
Sus pies cubren los joyeles de la Osa adamantina,
y su capa raras piedras de una ilustre Visapur;
y colgada sobre el pecho resplandece la divina
Cruz del Sur.
Va el pontífice hacia Oriente; ¿va a encontrar el áureo barco donde al brillo de la aurora viene en triunfo el rey Enero?
Ya la aljaba de Diciembre se fue toda por el arco del Arquero.
A la orilla del abismo misterioso de lo Eterno
el inmenso Sagitario no se cansa de flechar;
le sustenta el frío Polo, lo corona el blanco Invierno y le cubre los riñones el vellón azul del mar.
Cada flecha que dispara, cada flecha es una hora; doce aljabas cada año para él trae el rey Enero; en la sombra se destaca la figura vencedora del Arquero.
Al redor de la figura del gigante se oye el vuelo misterioso y fugitivo de las almas que se van, y el ruido con que pasa por la bóveda del cielo con sus alas membranosa
FELIZ AÑO NUEVO!!!!!!!
ResponderEliminar:D
ResponderEliminarRubén Dario não conhecia. Irei ler sobre ele.
Obrigada Gracias
Feliz Ano Novo