segunda-feira, 29 de novembro de 2010

foto: quinta da regaleira


Não tenhas medo de construir castelos no ar. É aí o seu lugar.

Mas uma vez que os sonhos tenham um lugar, é a tua tarefa construir os alicerces por baixo deles
.

Henry Thoreau

domingo, 28 de novembro de 2010

sagitário


Para todos os que têm o Sol em Sagitário, o seu Ascendente ou fortes energias de Júpiter no tema natal, este é o Arquétipo.



Polaridade: yang
Elemento: 3º signo do elemento fogo
Qualidade : mutável (final estação)
Planeta regente : Júpiter
Regente esotérico: Terra

O glifo de Sagitário é uma flecha (sagitta em latim), simplificação do símbolo do Centauro que aponta para o alto um arco, prestes a lançar uma flecha.

O centauro é uma criatura mitológica metade Homem metade cavalo. Tudo indica que se trata do centauro Quíron, um dos únicos centauros “amigos” do homem. Também foi Quíron o grande mestre de muitos heróis gregos, considerado sábio pelos próprios deuses do Olimpo. O símbolo do centauro representa a integração das polaridades: homem/animal. A parte humana está acima da animal, indicando os instintos domesticados pela consciência superior. Este centauro também é imortal e nele está contido o paradoxo – Humano/Divino. A seta apontando para o alto reflete a essência do signo: a busca do alto, a procura do conhecimento sagrado e universal que possibilita a sublimação da natureza mais básica do Homem. A flecha representa a procura cujo alvo está nas alturas. E ela liga este ser, meio Deus meio Homem, meio animal a algo que transcende todas estas condições. A flecha liga o mais baixo ao mais alto, a Terra ao Céu.

No ciclo anual das estações, Sagitário corresponde à passagem do Outono para o Inverno. Tudo o que deveria ter morrido já morreu e é tempo de preparação, para aqueles que sobreviveram, para o período mais duro, o tempo rigoroso do Inverno. Sagitário representa esta passagem, esta preparação interior. Este é o período onde a morte já foi aceite e interiorizada e neste estádio surge a Fé intuitiva e optimista de um ciclo que acaba para mais tarde recomeçar. Este ciclo de morte da natureza também abrirá um novo ciclo, que ultrapassa a matéria e as suas leis. Sagitário representa esse olhar para o futuro, para entender, significar e lidar com o presente. Esta Fé é como a neve que chega e magicamente protege as sementes que dormem no interior da terra à espera do momento único, do momento certo para poderem renascer. É preciso ter visão e uma compreensão do ciclo completo para entender o Inverno que se aproxima.

Como consequência evolutiva da fase anterior, o estádio de Sagitário representa a integração do que foi experienciado interiormente na fase de Escorpião. A morte do ego representa o nascimento do self. O Self é então uma estrutura na psique muito mais abrangente que passa a ser o centro consciente do indivíduo.

A energia Yang de Sagitário representa ultrapassar os limites daquilo que é pessoal, bem como as fronteiras psicológicas do ego e da ilusão de separação e de dualidade que ele trás consigo. Até esta fase o indivíduo experimentou tanto a noção de ego separado como fundido com o outro, mas em Sagitário surge a necessidade de ver-se inserido em algo maior, que não envolva um só outro mas todos os outros.

Por isso este signo representa a busca de uma verdade ou lei universal, que ultrapasse culturas, épocas e lugares. Esta busca tanto se manifesta através do impulso religioso como através de um sistema filosófico ou qualquer outro que permita o Homem compreender-se dentro de uma estrutura universal. A educação superior tanto no sentido de aprender como de ensinar estão profundamente ligadas a este signo.

Este estágio do ciclo representa também a transcendência de um estado físico para um espiritual. A compreensão da lei maior da existência, depois da vivência do nascimento (em Áries) e da morte (em Escorpião). A transcendência do instinto básico do homem – a sobrevivência.
Agora que já compreende intelectual e emocionalmente o ciclo da vida e morte, Sagitário procura o sentido da própria existência, o porquê maior de todo este processo, o objectivo da vida. Representa também a fé, a certeza absoluta, inquestionável na existência de uma inteligência superior que permeia todos os processos evolutivos.

Fascinado pelas diferentes culturas e religiões, Sagitário é o viajante aventureiro,inspirado por uma verdade universal que intui. E que irradia, sendo o arquétipo do mestre, do sábio professor.

O dom sagitariano é o de elevar os olhos para o céu, inspirar os outros ao que de mais elevado há na vida. O seu desafio evolutivo, ao contrário, é o de trazer o Céu à Terra. Sendo a Terra o seu regente esotérico, Sagitário é desafiado a ser o exemplo vivo e prático daquilo em que acredita e ensina. Trazer para a dimensão mais real, para a terra tudo o que ele concebeu noutra dimensão. A complexidade que ele capta deve ser traduzida na prática através da simplicidade.

No corpo humano Sagitário rege o fígado, coxas, quadris e região sacro-lombar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

o fio das missangas

Um dia destes, quando saía de casa, deparei com meu vizinho, Jossinaldo. Estava no patamar, como que me esperando. Dos braços cruzados, espreitava uma trela. Me arrepiei. Sempre eu o tinha evitado, por causa dos ditos e desditos. O homem era conhecido pelo que fazia no parque: levava um peixe a passear pela trela. Caminhava na margem do lago, segurando a trela. No extremo da fita de couro estava amarrado, pela cauda, um gordo peixe. Jossinaldo era, nos gerais, tido por enjeitado: a cabeça do coitado, diziam, cabia toda num chapéu. E acresce-se que o temiam, sem outro fundamento que essa estanheza do seu fazer.

E agora lá estava ele, a tira pendente como uma língua que lhe emergia do corpo. Já eu remastigava uns apressados bons dias quando o vizinho se me interpôs e esticou o braço na minha direcção.

- Peço-lhe este favor!

Estremeci, receoso. Que favor? E era esse mesmo obséquio: o de ir eu substituí-lo no passeio ao peixe. Esquivei-me. O homem não desistiu: que ele estava-se sentindo doente, desvanecente e o peixe do lago não podia ficar órfão, sem ninguém para o conduzir, na fluência das águas.

- Por amor, não recuse!

… … …

- Vá, pegue na trela para ele lhe ganhar familiaridades.

Com o coração de fora, lá segurei na corda. O bicho veio à superfície da água e me olhou com olhos, até me custa escrever, com olhos de gente. E remergulhando me conduziu ele a mim, pela margem. Contornei por inteiro a lagoa para me reencontrar com Jossinaldo.

- Deixe-me despedir dele!

Ajoelhado sobre as águas, o vizinho falou palavras que não eram de língua nenhuma conhecida. Ficou, tenho medo de dizer, conversando com o peixe. Ergueu-se Jossinaldo, lágrima escorrendo, e me apertou as mãos, as duas em duplicado. Não falou, retirou-se em silêncio.

Sou eu agora quem, pela luz das tardes, passeia o peixe do lago. À mesma hora, uma misteriosa força me impele para cumprir aquela missão, para além da razão, por cima de toda a vergonha. E me chegam as palavras do vizinho Jossinaldo, ciciadas no leito em que desfalecia:

- Não existe terra, existem mares que estão vazios.

Dentro de mim, vão nascendo palavras líquidas, num idioma que desconheço e me vai inundando todo inteiro.

Mia Couto



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

o minotauro

Em Creta
Onde o minotauro reina
Banhei-me no mar

Há uma rápida dança que se dança em frente de um toiro
Na antiquíssima juventude do dia
Nenhuma droga me embriagou me escondeu me protegeu
Só bebi retsina tendo derramado na terra a parte que pertence aos deuses

De Creta
Enfeitei-me de flores e mastiguei o amargo vivo das ervas
Para inteiramente acordada comungar a terra
De Creta
Beijei o chão como Ulisses
Caminhei na luz nua

Devastada era eu própria como a cidade em ruína
Que ninguém reconstruiu
Mas no sol dos meus pátios vazios
A fúria reina intacta
E penetra comigo no interior do mar
Porque pertenço à raça daqueles que mergulham de olhos abertos
E reconhecem o abismo pedra a pedra anémona a anémona flor a flor
E o mar de Creta por dentro é todo azul
Oferenda incrível de primordial alegria
Onde o sombrio Minotauto navega

Pinturas ondas colunas e planícies
Em Creta
Inteiramente acordada atravessei o dia
E caminhei no interior dos palácios veementes e vermelhos
Palácios sucessivos e roucos
Onde se ergue o respirar da sussurada treva
E nos fitam pupilas semi-azuis de penumbra e terror
Imanentes ao dia
Caminhei no palácio dual de combate e confronto
Onde o Príncipe nos Lírios ergue os seus gestos matinais

Nenhuma droga me embriagou me escondeu me protegeu
O Dionysos que dança comigo na vaga não se vende em nenhum mercado negro
Mas cresce uma flor daqueles cujo ser
Sem cessar de busca e se perde se desune e se reúne
E esta é a dança do ser

Em Creta
Os muros de tijolo da cidade minoica
São feitos de barro amassado com algas
E quando me virei para trás da minha sombra
Vi que era azul o sol que tocava o meu ombro

Em Creta onde o Minotauro reina atravessei a vaga
De olhos abertos inteiramente acordada
Sem drogas e sem filtro
Só vinho bebido em frente da solenidade das coisas
Porque pertenço à raça daqueles que percorrem o labirinto
Sem jamais perderem o fio de linho da palavra

Sophia Mello Breyner

quarta-feira, 17 de novembro de 2010


vou ali. e já volto.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

um dia

foto de Joanna Nowakowska


Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços, a tua pele será talvez demasiado bela e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o Inverno for tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela, sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a perfeição da felicidade.

José Luís Peixoto

domingo, 14 de novembro de 2010

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Nós nascemos, por assim dizer, provisoriamente, em algum lugar;
pouco a pouco é que compomos, em nós, o lugar de nossa origem,
para lá nascer mais tarde e, a cada dia, mais definitivamente.

Rainer Maria Rilke




quinta-feira, 11 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

na tua face


debruçamo-nos da janela e o mar existiu logo na transcendência de nós, no sem-fim espraiado e todavia apaziguado da sua inquietação.

víamo-lo em baixo, aberto de toalhas rendadas de espuma para o invisível da graça que devia sorrir em nós.

e havia o azul intenso da sua origem.

e havia em nós o silêncio para tudo poder falar.

Vergilio Ferreira

sexta-feira, 5 de novembro de 2010



Húmido de beijos e de lágrimas,
ardor da terra com sabor a mar,
o teu corpo perdia-se no meu.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

para Jan





hoje o sol retorna à mesma posição que estava quando nasceste

hoje o sol retorna

para novos começos

o Início

um dia feliz muito feliz amigo meu

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

um pouco de Astrologia

ando a reler Vergílio Ferreira e a rever as aulas de astrologia do Nuno Michaels. entre os dois hesito...e vá-se lá saber porquê hoje escolho a astrologia

O Significado e o Propósito do Signo Ascendente

O que é o Ascendente?

É o signo do Zodíaco que surge no horizonte no momento exacto do nascimento, visto de um local específico.

O Ascendente representa a energia específica do instante em que nascemos, a “aura” desse momento único. É a essência desse momento que não se repetirá, a qualidade energética que nos deu as boas vindas ao chegarmos à existência. É como se representasse a maneira como cada um chega à vida ou a energia que estava disponível para nos receber. Como a Astrologia tem uma linguagem simbólica e um símbolo pode ser interpretado em muitos sentidos e a níveis diferentes, o Ascendente representa várias coisas em simultâneo.

Em termos físicos, e porque é calculado para o momento em que o corpo entra em contacto directo com o ambiente de uma forma individualizada, o Ascendente representa o corpo físico e a nossa aparência, o “veículo” que utilizaremos ao longo da vida para nos expressarmos e relacionarmos com o mundo. Ao longo da vida representa a imagem que projectamos sobre os outros, o nosso contacto espontâneo com o ambiente imediato, a imagem com que num primeiro contacto os outros ficam de nós, antes de nos conhecerem mais profundamente.

Em termos psicológicos, o Ascendente representa uma espécie de “marca psíquica” ligada às circunstâncias em que nascemos e que qualifica muitas vezes a forma como “nascemos” para as novas experiências da vida, como começamos as coisas, como nos projectamos espontaneamente no ambiente em redor, como nos afirmamos.

No teatro grego, a máscara que o actor usava para representar o seu papel numa tragédia ou numa comédia era chamada persona. A persona não era o actor mas a máscara usada para interagir com os outros actores. Em certo sentido o Ascendente é a nossa persona, que usamos para interagir com o mundo exterior e com os outros, uma espécie de “segunda pele” que funciona não só como uma capa exterior que é percepcionada pelos outros mas também como uma película psíquica que filtra a nossa própria percepção do Mundo.

Imaginem um guerreiro no tempo das Cruzadas. O Ascendente é a armadura que o guerreiro veste para travar a batalha, o equipamento que ele usa para cumprir o seu propósito. O propósito da batalha é simbolizado essencialmente pelo sol no mapa astrológico, porque o sol representa o processo de conquista progressiva de consciência ao longo da vida de modo a nos tornarmos quem nascemos para ser, para nos conhecermos e cumprirmos; mas o Ascendente qualifica o tipo de armadura e as suas características e assim informa sobre o estilo de combate e a forma como esse combate é travado.

Dito de outra forma, é como se o Ascendente simbolizasse um dos principais “temas” da vida: o que temos que aprender a fazer e a ser para “agarrar” a vida e a sua encarnação; quais os principais desafios colocados pela vida até desenvolvermos as qualidades que nos permitirão “abrir” o potencial do signo solar e poder expressá-lo criativamente na vida.

Isto permite-nos refletir sobre quais são as tarefas, os propósitos mais importantes de cada signo Ascendente.

doçuras ou travessuras?



Chegam pé ante pé calando os risinhos com o dedo nos lábios. Batem com força na porta da rua. Sei-os de cor. Cinco ou seis anos vestidos de fantasmas e bruxinhas. Um feitiço qualquer mantem a vela tremeluzente no interior da cabaça esculpida.

Doçuras ou travessuras? Travessuras ou doçuras?

Travessuras não por favor, que medo! Entro nas suas brincadeiras. Doçuras doçuras… Deliciados e felizes abrem os saquitos onde se amontoam castanhas romãs bolos de noz maçã e canela…

Doçuras. Vou buscá-las à cozinha acabadinhas de fazer. Broas de todos-os-santos. A receita da minha avó. Que deposito no saco e na memória inundada subitamente de cheiros e palavras.

Agraciada por risos e beijos soprados na ponta dos dedos fico a vê-los correr pé ante pé para a porta do lado.

...

...

Aqui deste lado bato levemente a outra Porta. Doçuras ou travessuras? Pé ante pé atravesso-a.

É tão real o cheiro a broas de todos-os-santos acabadas de fazer.